Sinopse
No universo das publicações psicanalíticas, a maioria trata de elaborações pessoais de ideias originais que fundam o conhecimento psicanalítico; poucas contêm a centelha de uma ideia nova, que promova a necessidade de revermos o campo em estudo, aprofundando-o e expandindo-o. O conceito transformações autísticas pertence a esse segundo grupo. O presente livro nos permite acompanhar a história desse desenvolvimento. Em um primeiro momento, reconhecemos a ideia nova; em um segundo olhar, identificamos suas origens: um casamento entre a teoria das transformações de W.R. Bion e as teorizações sobre autismo desenvolvidas por Frances Tustin; em terceiro lugar, ficam disponíveis as cuidadosas elaborações de Célia Fix Korbivcher, que nos levam a rever o alcance da teoria das transformações, como também a perceber melhor a presença de manifestações autísticas em personalidades que atingem graus adequados de desenvolvimento simbólico.
Os primeiros três capítulos, reunindo trabalhos escritos entre 1992 e 2005, nos dão uma visão dos problemas clínicos que estimularam esta investigação. Seguem-se outros três, detalhando a hipótese transformações autísticas, sua elaboração clínica e teórica, encerrando-se o livro com o exame, em maior grau de abstração, de decorrências desse pensamento. Em um ganho nada desprezível, esta sequência nos oferece a possibilidade de melhor aprender a visão da autora.
A partir do exame de sua experiência clínica com crianças e adultos que expunham formas primitivas de funcionamento mental, a autora cria uma aproximação original do fenômeno autístico ao examiná-lo pelo prisma da teoria das transformações. E vice-versa, pois essa teoria sofre ampliações com a proposta das transformações autísticas. As observações que daí surgem e a hipótese que as organiza ampliam nossa visão da mente para além das dimensões do sensorial, dos pensamentos pensados por um pensador, do alucinatório, da busca do ser o que se é, assim como do âmbito dos pensamentos ainda não pensados. Amplia, também, a perspectiva de Tustin da existência de uma parte autística da personalidade, além das partes neurótica e psicótica.
Não são poucos os problemas e dificuldades que surgem com esse conceito. No livro, a autora nos coloca em contato com vários deles e propõe caminhos para seu atendimento, tanto teoricamente quanto para a clínica. Como acontece com qualquer ideia nova, esses movimentos iniciais são apalpadelas em um terreno escuro e os dados levantados despertam dúvidas. No entanto, fica inegável tratar-se de um conceito que provoca impacto ao ventilar ideias que tendemos a tratar como já sedimentadas.
A importância contribuição de Célia Fix Korbivcher pode ser avaliada pelo reconhecimento que seus trabalhos receberam da comunidade psicanalítica, por meio de prêmios, tanto no Brasil quanto no exterior: Prêmio Fábio Leite Lobo, da Associação Brasileira de Psicanálise, em 2002; Prêmio Parthenope Bion Tálamo, da Sociedade Italiana de Psicanálise, em 2004; e o Frances Tustin Memorial Trust, em 2005.