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quinta, 28 março de 2024

MARCELINO

Oliveira Neto, Godofredo

300 páginas

R$ 65,00

Sinopse


A epígrafe do novo livro Marcelino – uma citação de Emparedado de Cruz e Sousa – homenageia o conterrâneo famoso e sugere a tradição literária que Godofredo de Oliveira Neto persegue. Constrói um artefato lingüístico refinado, competente e sedutor, desvia-se dos clichês e da platitude da linguagem comum de parte da ficção atual num intenso trabalho de reescritura da primeira versão do texto de 2000. Prática esta incorporada e praticada por vários escritores, entre eles, lembraria dois modernistas: Oswald e Mário de Andrade, incansáveis autores de reelaborações de suas obras.

Oliveira Neto entremeia lances dos bastidores políticos, durante a ditadura Vargas com o ritual de passagem para a vida adulta do jovem pescador (18 anos), Marcelino Nanmbrá dos Santos, neto de escravo, açoriano e índio, na Praia do Nego Forro, em Santa Catarina, onde o romance começa e acaba. O torneio lúbrico na disputa pelo belo cafuzo, o melhor pescador de lagostas, envolve, de um lado, as adolescentes Sibila e Martinha, do outro, a balzaquiana Eve, e é responsável por passagens hilárias.

Tudo se passa durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942, ano em que um navio brasileiro é torpedeado e interrompe o veraneio de um ex-senador, alto funcionário do governo federal, Nazareno Correa da Veiga di Montibello, sua mulher Emma Alencastro do Nascimento Silva Azambuja di Montibello, os filhos Sibila, Pedrinho, mais a governanta Eve, na sua propriedade, Villa Faial, freqüentada pelos líderes políticos do momento e por Marcelino, encarregado para brincar com o filho pequeno do senador e de amigos seus. A imponência dos nomes revela muito sobre as personagens. Emma pertence à alta burguesia da capital, forçada a trocar, todo o verão, Londres ou Petrópolis pela Praia do Nego Forro, em virtude dos interesses políticos do seu marido na região.

No cotidiano daquele vilarejo (uma vila de pescadores), onde campeiam o descaso do poder público, a ignorância, a credulidade e as crendices, o destrambelhamento ético e moral do ex-senador e seus colegas, flanando no Cadillac Fleetwood do governo estadual, torna-se patético.

Godofredo transforma em ficção a vivência da sua terra natal. Os diálogos dão movimento ao enredo e o escritor explora na medida, sem exibicionismo, a riqueza vocabular da língua, através da qual comparecem a culinária, a paisagem natural e humana da região praiana. Estes elementos ganham vida própria pela manipulação do léxico e da sintaxe locais, sem prejuízo da fruição da obra por parte de um leitor externo àquele mundo. O narrador dá voz aos nativos como Tião, à confusa consciência política de Lino Voador, Martinha, à professora Ednéia, ao protagonista e a seus amigos pescadores. Do mesmo modo a vida da “corte” nos capítulos passados no Rio de Janeiro, nas conversas da dona Emma com sua amiga, nas falas da governanta Eve e no inconformismo pacato da entediada, Sibila, 19 anos, temporariamente suspensa, a contra gosto, do convívio de suas colegas cariocas.

Chico Alves, Lamartine Babo, Ari Barroso e Almirante, Chevalier, Piaff ecoam no rádio da venda do Seu Ézio e nas casas da família rica. Os ícones da nossa história recente circulam nas conversas dos personagens (Seleções, Diretrizes, Rádio Tupi, DIP, Getúlio, os Konders, Nereu Ramos, Filinto Muller, Lourival Fontes, etc.). O Repórter Esso informa sobre o desenrolar do conflito mundial e o rádio diverte os moradores do isolado lugarejo, um dos poucos momentos de lazer, afora os dias de missa. Mas o trinado dos pássaros é o melhor companheiro do arredio Lino voador, o único perdedor nesta singular história de emoções, medos, dúvidas, politicagens e também de singular escrita, capaz de proporcionar uma leitura cheia de surpresas e de muito prazer e informar sobre a engrenagem daquela sociedade racista e corrupta daquele momento.


Maria Eugênia Boaventura



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